Quando olho para trás eu me lembro de como nos conhecemos e de como deixei o bom senso de lado na primeira vez que saímos juntos. Eu vejo com clareza a primeira vez em que vi seus pais, de como seus irmãos me conquistaram de imediato. Eu sinto o medo que eu sentia quando ele dizia que gostava de mim, logo no começo, porque eu gostava muito dele também. Eu me lembro de nosso noivado, foi o dia em que mais ri na vida. Ele se formou na faculdade pouco tempo depois e eu no segundo ano seguinte. Nosso casamento foi lindo, e eu nem me importei de não seguir o ritual da minha religião. Sou capaz de enxergar a emoção em seus olhos quando disse que esperava nosso primeiro bebê, como essa emoção se repetiu mais duas vezes. Lembro de como ele costumava cantar para mim misturando a letra toda da música e eu ainda achava lindo. Há uns minutos nossos netinhos gêmeos, nossos primeiros netos, estavam sentados comigo e agora minha caçula está batendo a minha porta, mas eu não quero atender. Estou segurando em minhas mãos, com toda a minha força, a primeira insígnia militar que ele ganhou. E pensando que meia hora trás ele foi sepultado com a bandeira de nosso país cobrindo seu caixão. Eu me orgulho do meu marido. Sempre me orgulhei. Preferia ter ido antes dele, sempre disse que iria. Tenho 47 anos e pela primeira vez enxerguei com clareza o que odeio nos seres humanos: a sua mania insensata de tentar resolver tudo com guerras.
cn
VIVA INTENSAMENTE.
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