-Me fale uma coisa que você goste, ele disse, sem tirar os olhos da panela.
-Me pergunte algo e eu falo se gosto ou não.
Ele pareceu achar graça.
-Gosta de abacate?
-Não.
-Jaca?
-Não.
-Ferrero Rocher?
-Não vale. Você já sabe a resposta. Você gosta de jaca e de abacate?
-Gosto.
-O que é isso que está tocando?
-Músicas cubanas.
-Ah.
Silêncio.
Silêncio.
-Uma vez, algum tempo atrás. Nada sofisticado.
-Um animal morto?
-Não.
-O que cozinharam pra você?
-Batatas.
-Uau.
-É.
Fiquei em silêncio por mais um tempo. Ele jogou o macarrão na panela de água fervente e perguntou se eu não poderia descascar maçãs para o suco. Eu sorri sem graça e ele mudou de idéia. Eu não gosto de facas... O som agitado logo foi substituído por algo mais conhecido, de gosto popular. Franzi as sobrancelhas.
-Você gosta de que tipo de música?
-Muitas.
-Você é tão vaga...
-Muito.
Ele riu.
-É sério.
-Ta bom. Eu gosto de Beatles.
Ele mordeu os lábios e eu sabia bem o por que. Ele não tinha Beatles em casa.
Eu sorri. Ele não precisava me agradar o tempo todo. Beirava a irritação para mim. Quando ele terminou de cozinhar o macarrão, o molho já estava pronto, e o suco feito, ele olhou pra mim com aquela expressão. Aquela, de quem vai aprontar. Jogar uma bomba na sua mão.
-No quartel eu tive que aprender a cozinhar. Mas eu também já sei lavar e passar. Da pra casar. O que você acha?
-Eu?!
-Você.
-Eu acho que as músicas cubanas acabaram.
cn
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